quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Eleições em Aquidauana repercutem no Estado

ENVIADA POR NABIL ELIAS

Crepúsculo dos coronéis
Do Jornal Boca do Povo
www.bocadopovonews.com.br

“Durante décadas os herdeiros do falecido ‘coronel’ Zelito mandaram
e desmandaram na pequena Aquidauana. Nesta eleição o Povo resolveu virar essa página. Quando outras cidades que ainda vivem com o pé no ‘coronelismo’ seguirão esse exemplo?”

O povo de Aquidauana virou a página das elites fazendeiras, forçando a cidade ingressar no surto de progresso ao romper com a esmaecida figura do “coronelismo” que sobreviveu neste Estado desde os primórdios do século passado. A vitória do empresário Fauzi Suleiman (PMDB), que derrotou Odilon Ribeiro, neto do “último dos coronéis”, inaugura uma nova era dos destinos da cidade. Tio do atual prefeito Felipe Orro, Odilon é cunhado do ex-deputado Roberto Moacar Orro, que antes de encerrar sua vida pública presenteou o filho com a administração da cidade.

Felipe Orro foi o derradeiro herdeiro do “coronelismo” inaugurado por seu avô, o ‘coronel’ Zelito, que administrou a cidade por três mandatos a partir de 1958. Felipe foi um prefeito sem tino administrativo. Comenta-se, que as suas mais importantes decisões administrativas e políticas foram comandadas por sua mãe, filha de Zelito, portanto, na atual administração o prefeito que não fez sucessor pode não ter passado de uma espécie de ‘tertius” da própria mãe.

A cidade, considerada portão do Pantanal, famosa pela sua “TFP” (Tradicional Família Pecuarista), manteve até 05 de outubro a hegemonia política da elite fazendeira, até que os currais eleitorais estouraram. O aristocrático e seleto grupo iniciado por Tico Ribeiro, agonizou e capitulou.

A derrota de Odilon Ribeiro fecha as cortinas da “Era de Coronelismo” deixada para trás. Aquidauana se liberta do fantasma com mais de 50 anos de atraso. Sua política da época do “pé-de-botina” ruiu. Nos momentos finais ainda mostrou os ameaçadores dentes de uma engrenagem que teimava em moer o prestígio dos oponentes, sendo necessária a intervenção da Força Nacional para conter os acirrados ânimos. A eleição de Fauzi – o Libertador – pode ser entendida como uma vitória do povo. Muitas cidades sul-matogrossenses ainda vivem no “cabresto político” de decadentes “elites fazendeiras” que ainda mandam na sua política num processo de transferência de poderes para os mais novos. São os “herdeiros” dos antigos “coronéis”. Alguns demonstram inteligência administrativa como o prefeito Humberto Rezende (PMDB), de Terenos, que recebeu a cidade de porteira fechada, presenteada pelo seu avô, o ex-prefeito Alonso Honostório de Rezende, cassado da administração por corrupção e compra de votos. Beto foi reeleito, recebendo nas urnas 74,4% dos votos.

Coronelismo

Símbolo de autoritarismo e impunidade, o coronelismo remonta ao caudilhismo e o caciquismo dos tempos da colonização. Ganhou força no primeiro reinado, chegando ao final do século XIX tomando conta da cena política brasileira.

Conjunto de ações políticas de latifundiários – coronéis – em caráter local, regional ou federal, onde se aplica o domínio econômico e social para a manipulação eleitoral em causa própria ou de particulares, o fenômeno, que se findou em Aquidauana, ainda sobrevive em algumas cidades sul-matogrossenses dependentes da pecuária.

Fenômeno social e político típico da República Velha, caracterizado pelo prestigio de um chefe político e por seu poder de mando, as raízes do coronelismo provem da tradição patriarcal brasileira e do arcaísmo da estrutura agropecuária no interior remoto do país. Surgida com a criação da Guarda Nacional em 1831, pelo governo imperial, as milícias e ordenanças foram extintas e substituídas pela nova corporação.

A Guarda Nacional passou a defender a integridade do império e a Constituição. Como os quadros da corporação eram nomeados pelo governo central ou pelos presidentes de província, iniciou-se um longo processo de tráfico de influencias e corrupção política. Como o Brasil se baseava estruturalmente em oligarquias, esses líderes, os grandes latifundiários e oligarcas, começaram a financiar campanhas políticas de seus afilhados, e ao mesmo tempo ganhar o poder de comandar a Guarda Nacional.

Devido a esta estrutura, a patente de coronel da Guarda Nacional, passou a ser equivalente a um título nobiliárquico, concedido de preferência aos grandes proprietários de terras. Desta forma conseguiram adquirir autoridade para impor a ordem sobre o povo e escravos. Devido ao seu território continental, portanto à falta de mecanismos de vigilância direta dos coronéis pelo poder central, e pela população pobre e ignorante, o Brasil passou a ser refém dos coronéis, que por sua vez ‘personificaram a invasão particular da autoridade pública”.

O sistema criado pelo coronelismo passou a favorecer os grandes proprietários que iniciaram a invasão, a tomada de terras pela força e a expulsão do pequeno produtor rural, que passou a se transformar numa figura servil em nome dos novos senhores. Portanto, surgiu a figura do coronel sem cargo, qualificado pelo prestígio e pela capacidade de mobilização eleitoral.

O “coronelismo” aquidauanense surgiu depois do episódio da Rusga, e iniciou com a montagem da Fazenda Taboco, numa área de mais de 300 mil hectares. Desses investimentos surgiu a cidade de Aquidauana e implantou-se o poder político nas mãos de uma única família.

Do Jornal Boca do Povo
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Divulgação: Assessoria

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